Aprendiz de feiticeira

O amor é um toque mágico das mãos da

Feiticeira que sempre nos torna aprendizes

Ao invés de mestres pr obra de um estranho

Sortilégio.

Era uma casa tranquila w sossegada no primeiro quarteirão da Almeida Morais. Rubens olhou para a casa ampla com a varanda na frente e pensou em H... a mestra com quem queria conversar. Achou que confessar era um termo melhor para o que queria. Sempre que se falava de H... era como falar de algo inexplicável e misterioso. H... a mestra alta e bonita, era dotada de uma forma perfeita que fazia a inveja de muitas alunas adolescentes suas porque a beleza da juventude não era suficiente para fazer frente aquela beleza de trinta anos. Lidar com assuntos do coração e desilusões amorosas era também o seu forte, diziam que ela era meio psicóloga, e as moças a procuravam para ouvir seus conselhos e opiniões.

Nada tinham a ver com as aulas de física que Rubens assistia extasiado. Tinha que admitir que H... o perturbava e não se apercebia disto (não mesmo ? pensava as vezes ). Aquela postura de H... ajoelhando-se ao lado das carteiras para corrigir os exercícios, fazia com que o avental subisse e pudessem ser vistas as suas pernas. Afinal. Apesar da sua paixão pela bela Maria do Carmo, Rubens tinha os hormonios a flor da pele. O Heitor que sentava-se a sua frente virava a cabeça para trás e piscava marotamente. E Rubens não sabia onde enfiar a cara apesar de que aparentemente H... nada percebia. O coração se acelerava quando ela passava o lapís vermelho no caderno de exercícios, pois sentia roçar no rosto semi-imberbe as medeixas de cabelos castanhos de H... E sentia o rosto tão vermelho quanto a ponta do lápis. Se ao menos Maria do Carmo estivesse alí...

O mais curioso de tudo é que H... solteira nunca tinha sido vista com um homem em lugar algum e a lenda de um amor secreto e proibido corria solta e a boca pequena embora nunca houvess sido constatada coisa alguma. Indiferente ao que se dizia, até porque não sabia, H...seguia o seu caminho batendo os saltos altos sob as longas pernas e agitando as mechas enroladas dos cabelos castanhos pelos largos corredores do Colégio para mais uma aula de Física.

Rubens pensava nisto tudo e até esqueceu seus problemas enquanto tocava a campainha que fez tocar um sino ao longe. Não tardou para que os olhos grandes de H... o atravessassem, através da porta semi-aberta e a cabeça inclinada num angulo agudo sobre o ombro. Abriu um sorriso e maneou com a cabeça para que emtrasse.

Vista assim num tete-a-tete sem os escudos do caderno e do lápis vermelho Rubens sentia uma incomodativa intimidação A casa parecia vazia e o silêncio também o intimidava. Lembrou daquela noite no último baile do ano quando vira H... no caramanchão mos fundos da casa e ela o incentivara a voltar para a festa.

-Pensativo Rubens ? Algo não vai bem com você ? A pergunta o arrancou da torrente de pensamentos .

Fazendo um esforço para se aquietar Rubens olhou seus olhos inquisidores e abriu seu coração. Falou de Maria do Carmo, falou de seu amor e de quanto tudo aquilo perturbava sua vida e o que ela achava de tudo aquilo. Pesnsou que ela fosse rir ou achar graça mas seu rosto estava sério e compenetrado escutando-o; Finalmente ela olhou para ele e falou. Eram frases claras quase como se explicasse uma demonstração didática de uma Lei da Física:

-Nada há de errado em se apaixonar, em smsr alguém Rubens. Faz parte de nossa natureza humana. Homem e mulherea foram criados no, de e para o amor. Todos nóa amamos e nos apaixonamos.

-A Sra. também professôra ? Rubens falou quase sem o perceber.

-Claro que sim. Também eu como todos. Amo minha vida de ensino, amo minha família, amo meu trabalho. Muitos amam a ciência, a humanidade, uma causa. Amam porque faz parte da humanidade. Muitos amores são quase lendas que atravessaram as águas da história da humanidade idealizados como o ideal do espírito humano e voce como muitos da sua idade deve ter lido sobre eles. Romeu e Julieta, Tristão e Isolda e tantos outros. Há templos que foram construidos em nome do amor como os Jardins suspensos o Taj Mahal e ainda guerras declaradas em su nome como Troia. A paixão por uma causa e pela busca de um ideal é também uma forma de amar.

Olhou-o com uma profundidade muito longa e continuou.

-Hemingway escreveu um romance que li quando ainda no colégio como voce em que dizia mais ou menos o seguinte:

-Assim como a areia da praia é diminuida quando as ondas levam seus grãos, também quando alguém morre eu me sinto diminuido pois como quem se vai também sou parte da humanidade. Por isso nunca perguntes por quem os sinos dobram.

-Sei o quanto é difícil e trste não receber retorno do nosso amor; Há uma sensação de perda antes de se ter. Chora-se de magoa e impotência por não ter recebido ecos da pessoa amada. Daquela visão que atiça nosso desejo expressão do amor que carregamos dentro de nós. Mas quem ama deve estar preparado para tudo inclusive para não realizar seu amor Até para nunca bejar e ter nos braços a pessoa amada. Quando amamos temos o amor nas mãos em concha como agua. Se abrirmos os dedos ele escapa por entre eles. O que vale é não desistir nunca. Nunca desistir de amar.

-Estou sendo cansativa e repetitiva Rubens ? Digo coisas que você não quer ouvir ? A cabeça de H... estava muito próxima a de Rubens e uma mecha do cabelo roçava na testa de Rubens que não se atrevia a mover-se com receio que ela percebesse sua aflição.

H... entretanto afastou-se e remexeu na bolsa de onde retirou um cartão onde escreveu algo que entregou a Rubens dizendo :

-Quero que pense em tudo o que te disse. Quando quiser ligue-me para conversarmos. Poucas pesoas tem este número mas tenho apreço por voçe. Um garoto de carater e que será muito feliz. E acrescentou sorrindo suavemente :

-E encontrará um grande amor em sua vida.

Rubens foi para casa e apesar dos pensamentos que giravam em sua cabeça sentia uma sensação de estar muito leve.

Aproximava-se o final do mês. Heitor desde que soubera da conversa de Rubens com H. passara a dizer gracejos e piadas a respeto. O baile de formatura desviou a atenção de Rubens e raramente pensava agora em Maria do Carmo. Será que ela iria se tornar carmelita como dissera uma vez numa rodinha de colegas de classe ?

Bailes eram para Rubens um grande acontecimenyo. As garotas sem o uniforme igualador e vestidos longos e bonitos faziam enorme surpresa aos olhos dos rapazes mal acomodados em ternos pretos ou smokings paternos. Era um coro de admiração embalado por músicas suaves e românticas para os pares felizes que lotavam os salões,

Rubens caminhava em passos vagarosos fora do salão. Estava só e não conversara ainda com ninguém; Era o enorme salão de um clube de Regatas na Ponta da Praia e Rubens dirigia-se a janela para ver o mar através das imensas janelas de vidro.

H... numa mesa junto a janela sorria para Rubens. Ele notou o vestido branco de um brilho insinuadamente acetinada vestindo e emprestando a ela um brilho feminino que ele não havia ainda se dado conta. Foi quase instintivamente que ele a levou para o meio do salão e sentiu contra o seu corpo  a leveza de H. Rubens não se apercebia das palavras que dizia para tentar manter um diálogo e deixou-se envolver pelo momento enfeitiçado que o destino criara.

O tempo passou e a fronteira entre o sonho e a realidade fundiram-se nas lembranças que a varinha de condão de um feitiço indefinido carregou em sua vida como ele mesmo diria mais tarde ao encontra-lo em plena maturidade. A mágica funciona mesmo quando o segrêdo é descoberto.

 

 

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