Hoje tem sabatina !

Durante o ensino médio quando Garcia e Dendinho eram colegas de turna no Colégio Tarquínio Slva, os dias em que havia sabatina sobre a matéria apresentada em classe eram terríveis. Os professôres usavam até o terrível lapis vermelho para fazer a correção.

Ainda muito criança ouvira contar estorias aterrorizantes sobre Dª Zulmira Lambert, cuja filha se tornaria reitora de uma Universidade em Santos.  Dª Zulmira ficara conhecida por ponta rubra pelo seu hábil manejo do lápis vermelho na correção e fora aluna de meu avô.

Garcia e outros colegas costumavam passar no apartamento de Dendinho para se juntarem todos e tomarem o bonde juntos para o colégio. Quando havia sabatina as coisas eram diferentes. O  encontro no apartamento de Dendinho era também diferente.

Garcia e os colegas de Dendinho eram recebidos na porta do apartamento por Dª Firmina que se descabelava de nervoso fazendo os meninos entrarem. Garcia que já conhecia a história de outros carnavais perguntava num bocejar sonolento proposital:

-O Eden não vai Dª Firmina ? O que houve ?

-O Eden tá vomitando !

-Tá vomitando  ? Tem prova hoje ?

-Tem, voce não sabia ?

-Não Dª Firmina, juro!

-Ai que horrorrrrr....E Dªa Firmina saia correndo, as mãos na cabeça. Não se conformavam com o descaso do Garcia que nem ao menos sabia em qual matéria haveria a sabatina. No trajeto

 Para a escola sentados no banco do bonde não se podia em hipótese alguma dirigir a palavra ao Dendinho que seguia duro e hirto como um dois de paus, mudo e silencioso. Se o Garça perguntava qualquer coisa do assunto da prova, o que geralmente fazia propositalmente, como ....e aquele problema, como era resolvido mesmo ?.... o Dendinho cobria a cabeça e tapava os ouvidos dizendo:

-Não falem comigo, por favor, não estudei, não sei nada, vou tirar zero, não falem comigo. E rolava um certo stress.

Dias depois saiam as notas e lá vinha a nota dele, 9 ou 10 podia apostar.

Quando moravamos no sobradão da Dona Albina, recebíamos pela manhã antes de sair, um pão com manteiga e um pingado, por ela fornecido. Apenas um para cada um.  Quando era dia de exane ou prova podiamos conter que sempre havia mais pingado e pão com manteiga. Após o tradicional vomito, Dendinho seguia em jejum para a Escola. Havia a esperada faturada.

Um caso digno de nota era o do nosso calouro Alberico. O Alberico era um calouro “rachador”. Alberico rachava sempre que podia. Era notório, todos sabiam que Alberico acordava as 3 h da manhã para rachar, principalmente em vésperas de prova. Garcia que jogava poquer até a madrugada sempre via a luz do apartamento de Alberico acesa. Os prédios habitacionais deles no Conjunto Residencial dos dois eram vizinhois. Infelizmente não basta rachar. É preciso o elan e diversão a parte o Garcia se saia bem e Alberico só se ferrava. Coisas da vida.

Certa vez bateu o desespero em Dendinho. A prova era realmente difícel.  Química tecnológica Geral em que as descrições eram detalhadas, extensivas e permeadas de nomes de componentes de compostos cuja memorização requeria uma leitura estafante. Vencido pelo desespero e seduzido pelo aceno a solução do problema por um colega oriundo de uma escola de Rudge Ramos Dendinho concordou em receber as descrições que eram apostiladas por um engenhoso sistema de walkie-Talkie transmitido a longa distância por radios do jardim da escola para o interior da sala de prova. Os rádios eram coreanos, necessitavam enormes antenas e não funcionavam bem.

O comparsa instalou-se no jardim e durante duas horas transmitiu uma arenga de descrições e equações. O calor que fazia era de rachar mamona e fritar um ovo no concreto.. Quando tudo terminou Dendinho surgiu na porta do salão de onde saia a multidão. Como não tinha antenas enrrolara o corpo em vários rolos de fios, Usava uma pesadissima capa de inverno para ocultar os novelos de fios, os aparelhos nos grandes bolsos e gorro para esconder os fones de ouvido. Suava em bicas  como um rio caudaloso e estava vermelho tinto.

O sistema não funcionara e não conseguira ouvir um “a”. O crime não compensa.

Que dizer então daquelevelho mestre, o Castrucci ? O italiano não admitia ser chamado de mestre, mas o termo era sempre e tradicionalmente aplicado a todos os professores da Escola Politécnica. Um termo de uso nobre, quase uma homenagem. Afinal Jesus era o Mestre Maior. Até que numa prova um aluno escreveu na solução de um sistema termodinâmico: “....Como sabe o divino mestre....”.  Teve zero. Riscado com caneta vermelha Castrucci escreveu – “Palhaço

 

 

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