I pars noctis

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voce está ouvindo Regina Mundi no Canto Gregoriano da Igreja do Mosteiro de São Bento;o

 


 

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A biblioteca era de um silencio intimidador. Creio não saber como nos ocorrera a idéia de nos debruçarmos naquelas mesas para estudar. Chamava a atenção uma biblioteca de Universidade vazia. Olhando em volta e para o alto centenas de volumes, testemunhas mudas daqueles dias quentes e morosos. Os títulos sucediam-se  partindo centenas de significados em prateleiras escuras de madeira. Testemunhas de nosso esforço em alcançar um resultado proveitoso e eficiente de atingir a almejada entrada no âmbito universitário. Ninguém fazia pergunta alguma. Nada havia a dizer ou explicar até que olhando na imensa escrivaninha nos vimos e reconhecemos pela primeia vez.

Ana Maria Sanctorum atendia na biblioteca no auge de seus 17 anos resplandecendo uma imagem de beleza incomum e desprovida dos mais elementares artifícios. Os cabelos exultavam o mais reluzente dourado sob o sol filtrados nos cristais das janelas de arcos góticos. Olhos azuis eram reluzentes e inquietos que pareciam carregar uma ansiedade de respostas e uma torrente ce indagações. Ana Maria era uma procura de dúvidas não resolvidas. Compunha a figura feminina de uma moça altiva, mas inconciente de sua beleza. Ana era bela sem o saber. Poderia facilmente posar, desfilar e atrair para si todas as atenções sem qualquer esforço. Uma estrela adormecida dentro de uma noite suave que não podia brilhar.


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Ana Maria estava destinada a cumprir " disseum papel importante tal como convinha a um sidereus nuncius, colocada no centro de acontecimentos que se movimentavam a sua volta e sem sua vontade.

Ana aproximou-se com Vera Maria da mesa onde discutiamos um complicado problema de uma queda num plano inclinado, Maurício e Benedito. O problema nos ocupara a tarde toda sem conclusão, mas a discussão silenciosa era atentamente acompanhada por Ana e Vera.

"Voces com estes livros, nunca dantes vistos aqui..." disse ela Ana.

"Preciso de um número, que seja aproximadamente y. x dividido por y deve reproduzir z." disse Vera.

"Ele pode fazer isso. É um matemático como nunca vi nenhum." dizia Ana.

Fiz o que ela disse. Nem sabia para que eram os números. As duas sairam correndo da biblioteca com os papéis.

Só tornei a ver Ana Maria na tarde do dia seguinte Olhou-me a queima-roupa e disse: "Não gostaria de passar o fim de semana na Comunidade conosco?"

-E o que vem a ser a Comunidade ? O que é ?

-Voce faz muitas perguntas, como todo moço inteligente. Não precisa saber nada. Voce vai saber tudo lá na devida hora. Talvez voce goste.

-Voce vai estar lá ?

-Sim, vou estar, mas não muito cedo, talvez quando voce for embora.


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Os "cursilhos" apareceram na Espanha, num contexto político, econômico e social que sucita muitas dúvidas durante as décadas de 30 e 40. A Espanha é um lugar onde convivem pessoas que polarizam idéias e ações. É sintomático lembrar e associar um sentimento forte e aguerrido de hostes que se combatem e enfrentam como o fascismo do Generalíssimo Franco com o comunismo na sangrenta Guerra Civil espanhola, na Segunda Guerra Mundial e na perseguição propiciada pela Santa Inquisição. Tudo justificado em nome da libertação do ser humano por uma verdade imposta a ferro e fogo.

A união destas idéias em torno de objetivos como a transformação do ser humano pela fé, mesmo que tal seja feito e alimentado por um processo de indução em que os fins sejam justificados a despeito dos meios

Algumas organizações que cresceram e fomentaram  seus interesses como a Opus Dei estenderam o braço com o aval do selo papal no passado e confrontam com a teologia da libertação no presente. Mesmo sendo impregnado com ares de oferenda, sacrifício e martírio o Caminho de Santiago guarda muito de pregação mercadológica eclesiástica e muito menos de peregrinações da idade média muito em prática no reino luso-espanhol em que o sacrifício vencia ols males da feitiçaria e do obscurantismo feudal.
A razão será sempre apregoada por todos Aqui e em todo o mundo os chamados cursilhos de cristandade, que já foram obsequiados pelas ditaduras latino-americanas que sempre viram com complacência e foco principal a subserviência bem a propósito na manutenção de seu poder e continuidade. Os cursilhos tem organização, estatutos, bandeiras, simbolos, hinos e cânticos. Uma potência perto de Jesus e seus doze apóstolos. O Cursilho constitui uma prelazia pessoal

a exemplo da Opus Dei e a comunidade se amolda nas características dos Cursilhos. Não tem por certo sua estrutura organizacional e seus membros  não cantam palavras de ordem De Colores, mas guardam todas as ferramentas de um pensamento monolítico. Uma citação muito repetida e conhecida de si mesmo é o "sabor da laranja" de que alguem diz : eu não conhecia até que a provei-a guiza de que a melhor maneira e única de se conhecer algo que não pode ser descrito é experimentar.

 muitoUVeritas Liberabit vobis

Nota: A Prelazia pessoal,prevista nos cânones do Consílio Vaticano II no decreto Presbyterorum Ordinis constitui uma igreja particular cujos membros não tem nenhuma circunscrição de ordem territorial e tem um único senhor que presta obediência somente ao Papa. (Fonte:wikipédia)

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O site, o cenário onde se desenrrolava o encontro para a formação de novos elementos que iriam compor a Comunidade era não sem coincidências um seminário de formação religiosa. Ali todas as pessoas eram recebidas sem apresentações ou indicações e não saiam por um dia até que fosse dada por terminada a mensagem final. A permanência era num regime de Claustro. Uma espécie de prisão sem cadeias onde as portas estavam abertas. A refeição, no caso um almoço era colocado numa mesa e ficava com todo o necessário a espera dos comensais.

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"Neste momento há milhares de pessoas morrendo em todos os lugares do mundo. Muitas de fome e de sede. Muitas sem o consolo e o olhar de uma palavra amiga que lhes leve o alívio necessário que elas miseravelmente imploram para suas vidas de condições miseráveis às quais nem dedicamos siquer um olhar de reconhecimento , pois a verdade é que vivemos nesses tempos dentro do mais contumaz egoísmo."

A aparição de Claudius Sanctorum era carismática. O físico bem definido na vida militar que atraia a atenção das jovens, uma oratória sonora, dominante e invejável transmitia uma credibilidade a toda orova. Tudo isso completado por uma indumentária de seriedade, um paletó esportivo e um ar blasé Transparecia realização, bom mocismo e modelo do filho querido que as mães querem como genro. Quando podia ou tinha oportunidade cantava de tudo um pouco numa bela voz sonoras e vibrantes canções de Elvis, cantos de fé quase um gospel. Era capaz de criar e encantar com o canto gregoriano uma oaixão e uma especialidade de seu espírito  de disposição e alegria.  Senti por ele natural simpatia e solidariedade. É o que todos adquiriam vontade de fazer-partilhar sua amizade. Desconhecia que era o irmão mais velho de Ana Maria Sanctorum.

 Claudius Sanctorum

Conheci Claudius Sanctorum com a idade de 25 anos. Veio de uma cidadezinha do Vale do Ribeiro, conhecida pelo cultivo da banana, quando era um menino de colo e o pai um funcionário público conseguiu uma oportunidade melhor na Baixada Santista. Era um homem inteligente, dedicado a família e lhe passou o interesse evalor dos livros e da música. Deu-lhe uma infância nada fácil e muito pobre numa casinha humilde num bairro onde agua e luz não chegavam. O garôto cresceu e estudou em escolas públicas e rapaz ligou-se a caserna. O jovem tenente com um grande interesse humano oelas pessoonde as tambem ligou-se a Universidade local onde iria influir em seus destinos. O homem de letras e sociologo já prenunciava um futuro chanceler. e autor didático.Escolhera a sociologia porque a tinha como a matéria que mais o ajudaria a tratar com o ser humano.
O canto era uma característica e um privilégio seu mostrando um talento que o ajudou em seu caminho de vencer as condições adversas que enfrentou com determinação e vontade. Um coração aberto e muito trabalho e reconhecimento aos umildes e desprotegidos. Desde a meninice cantava. Em festas, igrejas, com amigos, em eventos soltava a voz com talento e emoção. Claudius chegou a viver de música, pois sabia tocar e compor. Ana Maria orgulhava-se e tinha culto e admiração  por aquele irmão, um admirável Elvis tupiniquim. Era comum encontrar um grupo com ele e amigos nos jardins da praia e Ana descansava a cabeça em seu colo ouvindo suas canções e projetando a admiração de seus olhos verdes. Era um tempo difícel em que Claudius praticamente morava na faculdade.

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O ciclo de palestras era encerrado após o crepúsculo , não sem razão. Quando os sentidos humanos estavam entorpecidos e dopados por palavras de ordem bipolares que ora exaltavam a busca e o aconchego da palavra do senhor e ora derrubava o indivíduo culpado de sua existência ignóbil, indigna e pecaminosa, as portas eram abertas ao mesmo tempo em que todos eram exortados ao arrependimento contrito e ao repúdio da vida anterior.

Meninos e meninas em pranto abraçavam-se e alguns arrojavam-se aos pés das poltronas querendo fazer a confissão com Chico. Um sacerdote simpático, baixinho e sorridente Chico era a imagem da intenção honesta e pura. Diziam que Chico saíra daquele seminário para se tornar um dirigente de uma paróquia da Baixada Santista.

Fiquei muito surpreendido com a postura de Vadico, um rapaz de aparente forte convicção que rezava com profunda atenção e semblante de grande sentimento. Vadico de camisas de flanela xadrez e calças de brim caqui em sua maturidade tinha o brilho de Claudius os braços sempre cruzados sobre o peito e as vezes na rodinha dos rapazes para fumar um cigarro. Tornou-se um companheirão e só por um acaso vim a saber que era um irmão Marista.

No final do entardecer um grupo chegou ao seminário. Vieram Elias, o criador observando suas criaturas, a estranha Goia, o jovem chinês Jsen que era já um veterano de Comunidade, Ana Maria e os tios Wanderlei e Velba. Observavam a todos numa exagerada distribuição de sorrisos e abraços. Notei que Ana Maria permanecia a distãncia como se aquilo não lhe dissesse respeito. Quando teve uma oportunidade chamou de lado e perguntou o que achara de tudo ? Assim, simplesmente. A resposta saiu precipitada e quase sem pendar:
Creio que vale como proposta de uma mudança de vida e de atitude para com as pessoas. Fez nos olhar para coisas que não haviamos considerado antes. É isso. Ana Maria falou o seguinte :"Olhe, na verdade quando fiz isto não tive estes sentimento. Acho que na verdade não senti nada, não fui capaz de me sentir assim."  Senti surpresa com a resposta e as considerações de Ana.  Ela que era a irmã de um lider na Comunidade.


 Esclarecimento: 

Os fatos aqui descritos e as pessoas aqui mencionadas são uma obra de ficção e quaisquer semelhanças que possam existir com fatos e pessoas desta ou de outras vidas  é mera coincidência exceto no que diz respeito a R Caius a quem conheci. (N.doAutor)

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