A difícel prova de Dendinho

 

 A difícel prova de dendinho

O comportamento de Dendinho não era de maneira alguma bem resolvido. Só mesmo lembrando o estado de tensão que a todos atingia era possível relevar e aceitar seu compartamento que sem mais nem menos tanger o absurdo. Assim achavamos que mais cedo ou mais tarde daíamos risadas, não gargalhadas, de tudo aquilo.

Morávamos nesta ocasião num quarto duplo, nos altos de um sobradão velho e decadente alugado por uma senhora tão velha quanto a casa, sobradão localizado no meio da Teodoro Sampaio e por nós chamado na irreverência de “casa da velha”. Locação de quartos para rapazes estudantes era muito comum na época. Haviam várias casas assim pela Teodoro  uma via que desembocava   na USP após algumas subidas e descidas.

A Dª Sebastiana, este era o nome da senhorinha, alugava o quarto quatro estudantes sendo o Dendinho e o Garcia os colegas de um quarto enquanto que  Geraldo e eu ocupavamos o outro. Garcia ou Garça como era chamado era descolado, porém era esperto e inteligente e não precisava estudar muito. O Geraldo era o Zé Geraldo, trapalhão e esforçado no aprendizado embora não produzisse bons resultados. A nacionalidade sua e a dos pais tinham lhe valido o conhecido apelido de Bacalhau. O nome tornou-se :Baca e por gozação babaca foi quase inevitável.

O Dendinho era reamente o tipo inesquecível. Eden Abade detestava o alcunha de Dendinho que tinha-lhe sido atribuido de pirraça nos idos tempos de um colégio distante. O nome também o deixava estremecido pelas firulas de uma galhofa antecipada.  Seu nome afinal é Éden ou Edén ?? Até agora não sei ao certo, mas o rosto magro e fino como o corpo fazia ressaltar o nariz adunco e grande e o queixo proeminente e diminuto num toque um tanto infantil-talvez isso tenha lhe cunhado o nome Dendinho. O constante temor da risada alheia e pouca afirmação ou confiança tornam sua conversa uma busca exagerada de confirmação  junto com uma falação prolixa e exagerada. Este era Dndinho às vezes chamado Den-Den.

O Baca era de resultados desastrosos, apesar de seus esforços para triunfar em provas após irresistíveis noitadas de carteado com os colegas. Havia vhegado ao termino do segundo ano de engenharia naval, um curso exigente e difícel com necessidade de muita nota para passar e muitos trabalhos atrazados. Assim seguia com muitas “subadas”  [1]  e muitas noites passadas na sala de desenho da Escola. Lembro-me de uma lenda muito comentada de haver até maionese no Plano de Linha [2], numa alusão a hamburgueres consumidos pelo Baca durante os trabalhos. O fato é que o Baca chegou  ao exame escrito de Resistência  precisando de 8.0 para com a média resultante poder prestar o exame oral. Seria algo difícel, muito difícel mesmo. O exame era feito pelo lendário catedrático Telemaco Von Poggendorf, mas não entregaria os sem garra e luta.

O Dendinho fizera também a prova desta matéria e necessitava de 3.0 pontos para ser aprovado, porém o resultado ainda não saira. A cena no quarto era assim: um Baca nervoso que se debatia desesperado com os livros de Resistência e um Den-den igualmente nervoso que rodava intermináveis círculos no assoalho de madeira ao lado da escrivaninha onde Baca afundava a cabeça na pilha de livros. As passadas de den-den deviam  já estar atormentando  a Dª Sebastiana e o inquieto Carlos, um senhor solteirão, seu único filho, que assistia a velhíssima tv preto e branco com ela e dava constantes e sonoras gargalhadas.  Gargalhadas únicas que faziam rir quem escutava. Imperdível. E os quatro do andar superior diziam num côro uníssono: quieto Carlos !!!

Dendinho falava sem parar e sem dar a menor atenção ao ouvinte forçado que fazia esforços  tinhsdesesperados para entender outros esforços - uma tensão de cizalhamento numa viga.

-Acho que a primeira questão estava certa- aí já tenho 1 ponto.

-A segunda tinha uma pegadinha. O Telemaco me ferrou aí. A questão valia 4, mas estava subdividida em 8 questões de a até h, portanto como acertei o primeiro quesito e metade do segundo tenho 0,25 no a e  0,12 no b.

Assim tenho já 1,37 e preciso de 1,63 na última questão que valia 5, mas tinha 5 quesitos dos quais deixei 3 em branco.  -Tá me seguindo-e ?

-Eden, vou te explicar mais uma vez: amanhã tenho prova e preciso de 8. Um detalhe:-não é para passar, é para poder prestar o oral.

O Dendinho parou um momento, fez uma cara de espanto e disse:

-Entendo, entendo,...mas voltemos aquela previsão Zé.

E a exposição do Dendinho foi se extendendo pela madrugada e a cada nova torrente de argumentações vinha a pergunta – Será que ele vai dar ???

-Acho que ele dá Eden.

Após vários  ciclos  de repetição deste quadro creio que Baca surtou e em ato de desespero atirava livros e apostilas pelo chão da sala de preocupações improvisada de Dendinho. Levantou-se da cadeira e babando espetou o dedo no nariz de Dendinho gritando:

-Desista Eden ! Ele não vai te dar a nota nunca ! Tu tmou pau!!!

Eden então falou calmamente para o Baca, como se despertasse de um sono : -Acho que ele dá.

  


N otas:

[1]  Provas deixadas pelo aluno para a prova substitutiva

[2] Desenho curricular do curso de Naval tamanho A0 efetuado na Escola

 

 

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