O amigo

Eram tempos desalentadores. Digo desalentadores porque se vivia a época dos padrinhos, se é que esta época terminou. Era aquela mais que nunca a era dos padrinhos e quem fosse amigo do rei ou de seu cavalo podia contar com seu beneplácito para estar bem nas fotos.

Desde que fora reenviado ao mercado de trabalho teivera ou passara muitas dificuldades para recolocar. Este era o termo politicamente correto usado. Não fora fácil e não tivera a suavidade de um passeio no parqur.

Certo companheiro dessas agruras e desventuras que costumava encontrar de quando em quando passou por estas mesmas dificuldades e após bater o nariz em muitas portas acabou literalmente embarcando numa daquelas de trabalhar sob contrato de uma montadora no exterior. Nigéria me parece.

A ideia entretanto não me seduzia e não sei nem se conseguiria. Passara por todo o roteiro comum da massa de desempregados que se atiravam a leitura das páginas do Estadão todas as manhãs de domingo. Meus bolsos do paletó

Meu colega que embarcou na aventura africana gostava muito de uma firma dessas que se diziam de recolocação de emprego. Foi através dessa firma que consiguira ir para a Nigéria. Entretanto fiquei muitas vezes e muitas horas-cadeira nesta firma e nada conseggui.ida

Em outra conhecida firma sempre na boca dos desempregados uma tal de Ohtac que procurei depois de muita insistência dele passei os piores momentos do desemprego. Atendeu-me um homem de meia idade bem vestido com impecavel terno da moda. A tal firma efetuava verdadeiros shows teatrais com os ansiosos candidatos. Eram treinados num verdadeiro script como deveriam comportar-se na temida entrevista de contratação, as respostas que deveriam dar para determinadas perguntas críticas e o que não deveriam de maneira alguma responder. Uma pantomina teatral de manipulação.

Tudo era feito do mesmo modo em relação ao traje, objetos pessoais , óculos, cabelos e outras coisas. Como as coisas deveriam se encaminhar conforme o sexo e idade do entrevistador.

A tal Ohtac possuia ainda grupos de assessores especialistas em redigir currículos que poderiam variar em tipo e objetivo conforme a área em foco do cliente que no fim das contas tinha um leque de currículos a escolha para serem enviados, tarefa que era realizada automaticamente pela Ohtac após a leitura semanal dos classificados dos principais jornais por uma equipe.

Uma máquina dificel de bater. O homenzinho gordinho de cabelos grisalhos me olhava do outro lado da enorme escrivaninha recoberta de enormes livros em inglês sobre RH, Direito e coisas afim.

Sorria no sorriso mais irônico que já vira anunciando seu preço absurdo, astronômico e aviltante. Fiquei mudo por uns instantes sem saber o que dizer. Confundindo repulsa e indignação com hesitação o homenzinho insistiu sorrindo..."Podem ser dois cheques, o primeiro agora e o segundo no primeiro pagamento !". Falava sem se dar conta que desempregado tinha que optar entre comer ou andar de ônibus.

Naquele decurso de tempo, muita agua correra embaixo da ponte. Fora instalada uma assembléia nacional constituinte, promulgada uma nova carta constitucional e Fernando Collor fora conduzido  a Presidência da República.

Descobri que as empresas públicas não podiam mais selecionar ou contratar funcionários fossem eles para varrer o lixo ou integrar o grupo de pesquisa da vacina da AIDS.

Tudo era nivelado numa prova de cruzinhas denominada de Concurso Público que cobrava taxas de inscrição altíssimas de critérios secretos e duvidosos e com resultados democráticos pouco convincentes.

Hívio era um rapaz trabalhador e esforçado que havia sido um excelente funcionário meu, cumpridor de funções de rotina na area de informática. Podia-se contar com ele que dava conta do recado. Preocupado comigo localizouHH-me sem nunca ter tido contacto antes. "Há um novo gerente na area de informática. Seu nome é Sobrinho. Quer reergue-la e para isso quer contar contigo."

Esta história deve ficar registrada porque sempre é bom dizer que fomos procurados e convidados.

 


 

 

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