O catedrático de Pinheiros

O lugar era acanhado e velho. Não antigo, velho mesmo. Até a localização era de torcer o nariz de quem passava e não conhecia na rua de casas decadentes, pensões e ruas raramente visitadas pelo serviço de limpeza. Atrás da igreja N. S. Monte Serrat em Pinheiros frente aos fundos mesmo estava o Catedrático. Uma condição que o tornara inconfundível, pois a molecagem universitária o apelidara de C... do padre. Nada como a posição do indivíduo.

catedratico3A primeira vez que entrei no Catedrático aconteceu há 50 anos(o boteco data de 1954) . Nessa ocasião é que conheci o Celso, o dono do Catedrático, um gordo português de bigodes. Descobri que na verdade ele não se chamava Celso e sim costumava chamar a todos de Celso. Daí ser conhecido por Celso. Avental branco e um catador de gelo na mão atrás do balcão.Esse era o Celso. (na verdade o nome dele era Narciso e ele já faleceu).

A Universidade de São Paulo tinha uma frequência assídua no Catedrático. Acho que naquela época sem muitas opções as batidas artesanais do Celso faziam um grande sucesso, principalmente a de morango com vinho. Era encostar no balcão e ele sem pressa começava a preparar. Um balde de gelo picado de alumínio amassado de onde retirava pedras de gelo com as quais fazia malabarismo atirando as pedras para o ar e aparando-as  no copo. As batidas tinha a mistura de vários ingredientes que ninguém conhecia pois ele tirava de garrafas sem rótulo. Preparando uma batida e um suco ele dizia:"uma alegria e uma tristeza."

Celso tambem preparava os sanduíches que eram de dois tipos somente:quijo provolone com calabresa picada e churrasquinho com provolone, pickles e azeitonas. O Celso contava com uma assistente, mas só nos sanduíches.

Provolones inteiros, de vários quilos curtidos e pendurados por corda no teto há quantos anos sabe-se lá. Tinham sido recobertos por uma crosta escura,Alguns deveriam ter virado manteiga. Garrafas de vinho sem rótulo igualmente penduradas.O boteco parecia uma taverna.

Um quadro de avisos enorme e repleto de decalques e adesivos. Um para cada faculdade que lá havia passada, se reunido, brindado e comemorado. Qualquer coisa. Sua entrada, saída, suas notas, suas vitórias e também amargado suas tristezas.

Nunca mais retornei só ou com amigos ao Catedrático. A propósito, o boteco chanava-se apenas Bar das batidas. Só o pessoal da USP o chamava de Catedrático.