O segredo das fotografias

 

 

O SEGREDO DAS FOTOGRAFIAS

 

Quando menino tinha uma curiosidade e uma atenção pelas fotografias. Aqueles minúsculos papéis, de bordas brancas e serrilhadas às vezes me tiravam o sono tentando imaginar como tal imagem teria sido colocada neles. Algo fantástico, algo de seres mágicos. Os fotógrafos tinham algo assim de instigante, de uma confraria e não era fácil chegar naquele bem guardado mundo de segredos. Velhos livros e alfarrábios deixavam entrever que cópias podiam ser obtidas com uma copiadeira e papel fotográfico de uma lambeimagem de um celuloide conhecida como negativo. O negativo vinha do filme usado na máquina. Não sabia muito sobre o negativo exceto que havia tamanhos padronizados como 9 x 12 com 8 fotogramas e 6 x 6 (usado numa Hasselblad) (1) com 12 fotogramas num filme de 1m50 aproximadamente e de 3,5 x 4,5 om 36 fotogramas no filme de 35 mm O filme mais profissional era o de 35 mm.

Devo dizer que acreditava piamente que o lambe-lambe utilizava filmes de 35 mm naquela gigantesca máquina montada na areia sob um gigantesco guarda-sol onde fotografias secavam como se estivessem penduradas em um varal.

Apesar disso continuava a ignorar como as imagens apareciam no papel. Ela vendo meu interesse e sendo muito amiga de papai começou a contar para nós como fazia as fotografias. O tom da coisa era como quem preparava uma receita de bolo.

“Aqui na câmara escura tenho dois pratos com água num deles coloco o hipussufito (na verdade o hipossulfito de sódio). E no outro um pingo de revelador”.  O grande segredo de polichinelo estava aqui revelado. Papéis fotográficos fossem eles de Clorato de prata mais lentos e resistentes à luz e mais rápidos e pouco resistentes a luz como o de brometo de prata deviam ser manipulados e revelados como películas para que as imagens viessem à luz numa reação química. A luz monocromática vermelha não tinha a capacidade de reagir com o sal de prata. Isto era o básico. A câmara do lambe-lambe era na verdade uma câmara de revelação. O fotografo não usava película e sim uma lâmina de vidro sensibilizada com brometo. O negativo era uma chapa e dali vinha o costume de denominar filme de tantas chapas. Atualmente não se usam chapas nem para o raios-X.

As primeiras cópias que tentei fazer sem revelar e usando a luz solar como impressão não podia dar certo. Passado o tempo fui desvendando a confecção dos reveladores que basicamente era a composição de dois sais: o metol e a hidroquinona, ou somente um deles com uma mistura de uma dezena de outros com pouca ou nenhuma função. Filmes havia de montão, cada um deles com uma finalidade específica e cito alguns como mera curiosidade sendo hoje impossível encontra-los. Guardei alguns como uma recordação.

Ortocromático de baixa sensibilidade

Pancromático Tri-x de rápida sensibilidade, o feijão com arroz.

Data Recording de alta sensibilidade podendo fotografar a luz de velas

Ultra High Contraste que só gravava tons pretos e brancos e gravava contra a luz

Infrared que tirava imagens pelo calor emitido sem a luz.

Usei estes filmes por curiosidade, pois muitos eram caros e importados.

Após os passos da Dª Maria da barraca de praia fiz amizade e conheci muita coisa com colegas que como eu apreciavam a confecção das imagens maravilhosas.

Fazzole Ferreira era um colega do antigo colégio Santista. Conhecia bastante coisa e era autodidata na arte do retrato. Aprendi sobre a necessidade de um conjunto ótico de lentes indispensável à ampliação.

Construí um ampliador caseiro com lentes e peças de brinquedos desmontados. Não deu muitos bons resultados por ter lentes de baixa qualidade.  Só ao receber um prêmio daqueles de incentivo a pesquisa pude investir na compra do primeiro e único ampliador que tive. Era um Meopta Universal que usei vários anos.

O Irmão Marista Geraldo Constante do Colégio Santista, diretor do conhecido Grêmio São Luiz reuniu uma turma de alunos do mesmo colégio e ministrou um detalhado curso de fotografia como incentivo aos alunos interessados no ofício. Embora não conhecesse a parte química da elaboração conhecia bem o uso da câmera que sempre o acompanhava pelos jogos do Santos Futebol Clube. A câmera e as unhas manchadas de revelador eram sua marca registrada.

A foto colorida era outra história bem diferente. Uma foto colorida partia de um sistema completamente diferente. Se um filme preto e branco podia ser revelado com três banhos, um colorido precisava de sete banhos para a revelação. Tinha três camadas de cores básicas. Havia dois tipos fundamentais de filmes: o kodachrome e o ektachrome. A diferença era radical. O Kodachrome tinha a química do processo no banho da revelação e o Ektachrome tinha a química no filme. O papel tinha três cores básicas exceto se fossem as cores falsas permitidas nas temperatura do infravermelho...

Melhor esquecer. As câmeras digitais dão um banho nisso tudo. Solarizam, abaixam e sobem o relevo e programam efeitos impensáveis.

Dª Maria não acreditaria, mas com certeza aplaudiria. Tudo na ponta dos dedos após um longo caminho percorrido uma massa de grãos de prata pontuais foi substituida por um agrupamento de pixels virtuais.

 

 

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