O Colorido e o Gorgeio

 

 

 

Como o pássaro tem maviosidade,
Tua voz, a cantar, no mesmo tom,
Alivia, consola e persuade.

E assim, tal qual a flor contém o dom.
De concentrar no aroma a suavidade,
Da mesma forma, tu nasceste bom.

(Martins Fontes)

 

Desde pequeno quando era carregado por não saber andar que percorro os caminhos e curvas do Orquidário. No interioorquidarior deste parque  encontram-se espécies da Mata Atlântica, arvores frutíferas além de espécies típicas e raras como pau-brasil e cedro. As estufas contêm mais de mil mudas de orquídeas e a exposição Nacional é durante o mês de Novembro, mas há outros eventos durante o ano como a expo-Bonsai, a exposição das Bordadeiras do morro de São Bento. As mudas vieram do quintal da casa de Júlio Conceição conhecida como Parque Indígena na Av Conselheiro Nébias que era aberta a visitação pública.

Aquela área privilegiada que carrega aquela diversidade de espécies sempre me foi reconhecida como um mundo familiar que estivesse sempre a espera nos envolvendo num ambiente de  paz e meditação.

As orquídeas são flores de uma beleza única e só podem ser cultivadas com a dose de amor e paciência da dedicação de alguém que se dedica a elas com gosto e conhecimento. Sempre que é realizada uma exposição anual uma visita nunca fica completa sem percorrermos aquela estufa onde se encontram as obras primas da criação da paciência e da dedicação ao cultivo das inigualáveis orquídeas.

Bem ao lado da casa que abriga a exposição está a fonte onde acostumei a sentar-me no banco feito de tronco de arvore. Ali o murmúrio da água envolve-nos de silêncio. Ali fiz planos de vida e planos de amor e no silencio do correr das águas retive no papel todos os detalhes das imagens que não pude guardar para que não fossem esquecidos.

O lago de peixes e tartarugas é um mundo movimentando-se sobre a ponte onde famílias e gerações se encostam tentando apontar uma tilápia maior ou as enormes tartarugas que nadam há anos dentro de suas águas.

Quem pode resistir a fazer uma careta ou chamar carinhosamente o mico leão-dourado, o macaco-aranha e o mico leão-de-cara-dourada. Costumo sentar pelos bancos e enquanto as capivaras  e pavões correm atravessando o caminho entre a vegetação, penso que o mais importante é a consciência que deve estar sendo despertada para que se possa evitar a extinção destes animais.

Num cercado em frente ao canalzinho já estiveram os jacarés-de-papo-amarelo e o famoso bambi, um pequeno cerco que gostava de comer as flores-de-maio que os visitantes insistem em lhe dar.  Um aspecto frágil e carinhoso que encantava as crianças.orquidario

Dizem  que através do canalzinho  garças saem para passear pelos canais da cidade. Muitas vezes pude observa-las na grande curva do Canal 1 e mesmo no Canal 2. As aves brancas e elegantes comportavam-se como se estivessem reconhecendo a cidade.

Beber a água corrente das bicas na concha das mãos é também parte de minha relação com este pequeno pedaço da alma santista. Que trago comigo desde a mais tenra idade quando nos ombros de alguém que tivesse a paciência de me conduzir, arrancava das árvores os rabos de macaco e sentia o perfume do jasmim entre os troncos das árvores.

Caminhar entre os viveiros onde um grande conjunto de espécies convive em harmonia e liberdade e voam sobre as pontes e lagos onde as pessoas impacientes se acotovelam procurando a melhor posição para não perder um só detalhe daquelas plumagens vivamente coloridas. Em que outro pedaço urbano ocupado poder-se-ia  ouvir tal gorjeio e ver tal colorido?

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