Creio que em meio aquela urbe masculina o que mais me seduzia eram os campos. Campos de futebol. Eram tres campos que tinham até nome : o campinho, o campo e o campão. Havia outros atrativos como aquela bola presa na corda que tinha de ser enrolada no poste e mesas, muitas mesas de ping-pong. Acho que todos os “irmãos” como chamavamos os irmãos maristas pareciam jogar ping-pong. Devia ser a adrenalina e os hormônios a flor da pele como nós. Espantava-me ver a bola desaparecer no meio do jogo de repente. Os irmãos de brincadeira a escondiam debaixo da batina.
O colegio masculino tinha certas particularidades. O banheiro público aberto e aquela fila de urinóis exposta no meio do pátio. Lembro da cantina sempre tão procurada. A cantina era democrática. O cachorro quente que nos deixava na torcida para vir com duas salsichas e sempre depois o picolé de groselha feito ali mesmo, redondo ou quadrado e comprado com passe de bonde. Sempre chegava cedo com vários colegas porque vinha no onibus do colégio que era conhecida como “a charanga”. Quem não gostava e chiava com o apelido era o motorista baixinho, careca e barba cerrada, o irmão Ari. Era motorista e mecânico sempre "mexendo no motor da charanga. Lá íamos nós, carregando a mala de couro (ninguém tinha mochila), lancheira, disputando "uma janelinha".
Cada irmão tinha sua função, mas todos davam aulas. Sempre um era o titular, uma espécie de diretor da classe. Havia um aluno que era o representante de classe. Um que puxava a oração, pois a fazíamos em toda aula. Não havia muita preocupação com pontos, matérias e livros. Tudo estava determinado e eram todos da editora dos irmãos comprados na livraria do lado da cantina. O irmão-livreiro e que também cuidava da cantina era o irmão Eurico. Ocupava aquela sala abarrotada de livros ao lado da sala da banda.
A banda era o charme do Santista. Situado estrategicamente próximo ao Coração de Maria, ao Liceu Feminino, ao Conservatório era o seu ensaio para as paradas o sinal para que as meninas viessem observar os rapazes desfilando e tocando surdos, pistões, pratos e caixas ostentando pulseiras de prata com nomes gravados como era o costume. Os espelhos ficavam congestionados para os jovens a tentar reproduzir o topete de Paul Anka.
Tanto futebol, tanto ping-pong era preciso organização. O GSL – Grêmio São Luiz teve seus dias de glória. O azul e branco teve cores, bandeira, camisa, profissionais e amadores. Enfrentou Tarquínio, Marçal e até seu super-arqui-inimigo o Carmo. Jogamos damas e xadrez naquele porãozinho que era a sede debaixo do anfiteatro onde cantavamis o Hino Nacional e Deus salve a America sob a batuta do João Rodrigues "Serenata".
O irmão Geraldo Constant era o diretor do Grêmio São Luiz, porem seu hobby mesmo era a fotografia. Era o irmão-fotógrafo com todas as honras. Durante as paradas de 7 de Setembro, nas formaturas, nas solenidades do dia das mães, nas festas juninas, nos campos de futebol durante as pelejas do GSL e do Santos também lá estava ele. A batina preta não atrapalhava o religioso de joelhos, não para rezar, mas sim para capturar uma imagem na mágica Rolleiflex na visivel satisfação de eternizar o momento. O Geraldo era a memória do Santista. Geraldão, aquele religioso alto chamava a atençãoo e certa vez o jornal A Tribuna flagrou seu trabalho, publicou sua foto de câmara em punho falando da "figura que já nos acostumaramos a ver em campo".
O Geraldão tinha seu laboratório e suas químicas no temido 3º andar do prédio novo. Temido porque era terminantemente proibida a subida e permanencia de alunos no terceiro andar onde se encontravam os aposentos e o refeitório dos irmãos. A oficina e marcenaria se localizava no segundo andar e uma das suas ocupações era o corte de raquetes de madeira para ping-pong, muito disputadas nos campeonatos que se desenrrolavam no Grêmio e na Congregação Mariana que tinham mesas oficiais.
A Congregação Mariana, o Santista era um colégio religioso embora franqueado a todos, uma instituição de carater religioso era dirigida pelo Pe. Paulo Horneaux de Moura o orientador religioso do colégio. Uma figura profundamente humana de posições liberais,renovadoras e muita vezes não aceitas na época. Filósofo, psicólogo da alma humana e totalmente dedicado aos jovens além de sambista e criador da escola de samba que leva seu nome foi um professor de vivência para todos.
O mes de Maio revestia o pátio de flores e alunos homenageando as mães com cânticos e músicas que a banda tocava. O mes de Junho trazia a festa junina e o grande baile da quermesse marista que trazia as meninas dos colégios femininos.
Eles eram os "civis". Professores que não eram "padres" e estavam ali para dar uma mãozinha. Além do João "Serenata" o rígido Tenente Barreto regia a educação física. Os desfiles eram o momento de trocar a farda caqui prlo vistoso uniforme branco bem próximo a Marinha, com direito a quepi, espadim e divisas, uma herança do orgulho nacional pelos pracinhas e sua atuação no conflito mundial.
O Roque era um bedel, um faz-tudo que controlava campainha e portão. Ficou no colégio até a aposentadoria foi famoso e um patrimônio do mesmo. Conhecia a história do colégio como poucos.
Tinhamos ali o material da aprendizagem e da cidadania para seguir, independente dos quadros de honras e medalhas, com educação, conhecimento e honestidade
Nós da época que te vivenciamos por tantas e tamanhas razões, trazemos em nossa mente as lições que nos destes, as linguas , os sentimentos de conhecimento da apologética do Criador , as músicas que cantamos e ouvimos, as ocasiões especiais que reverenciamos neste nosso tempo, Ensinastes tanto. Creio que fizemos por merecer. Obrigado a todos por tudo.