Café Paris, meu bistrô inesquecível

"...Escrever um romance ou viver um não é de todo a mesma coisa

e, portanto nossa vida não está separada de nossas obras”.

(Marcel Prost, Em busca do tempo perdido).

 

         A entrada tinha tudo a ver com as portas de madeira de vai e vem e no alto o néon brilhando em azul e cor-de-rosa no nome do café mais conhecido na cidade universitária: Café Paris. O bistrô situava-se bem na entrada ao lado da churrascaria Ponteio e dali podia-se ver a Praça da Paineira.

         Falava-se tanto no café Paris que na mídia ele se tornou uma lenda. A casa noturna pertencia orgulhosamente à intelectualidade universitária da USP que como não podia deixar de ser rendia-se todas as noites ao charme discreto daquele ambiente que anos mais tarde vim a reencontrar no café Flore em St. Germam-se-Prés um café mais intelectual, ou mesmo no café de l'Opera.

         Evidentemente no café Paris não se provava Camenbert e a água era Lindoya e não Perrier, mas o charme eram as mesinhas redondas de madeira escura e as cadeiras com assento e encosto de palha trançada num ambiente intimo e estreito com luzes encarnadas e espelhos com desenhos dos anos 20.

         Naquelas mesas vivemos nossos dias de universidade, fizemos todos os planos do mundo e decidimos os rumos da nação. Naquelas mesas ficamos tristes e alegres, eufóricos e frustrados. Num mergulho da imaginação vimos tudo o que faríamos em Paris depois d 10 ou 20 anos e vislumbramos uma vida inteira dedicada aos mais justos ideais. Naquelas mesas amanhecemos, sem ter um pingo de sono e exaurimos todo o cansaço do esforço no aprendizado.

         Finalmente eu alí em uma das mesas, observei sobre as paredes os postais que fiz nas minhas caminhadas pelas ruas e cantos com a cumplicidade temporária de um artista provisório.

         Finalmente alí, estive contigo, que tu sabes, nossas mãos se reconheceram e nossos olhos se tocaram enquanto faziamos planos para os próximos quinhentos anos.

 

 

 

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