O canto do Roberto Carlos

 

 

Não precisa de dinheiro

Pra se ouvir meu canto

Eu sou canário do reino

E canto em qualquer lugar

Em qualquer rua de qualquer cidade

Em qualquer praça de qualquer país

Levo meu canto puro e verdadeiro

Eu quero que o mundo inteiro

Se sinta feliz

(de Zapata, numa música de Paula Toller)

 

Desde pequeno gostava de canários. Aprendi a gostar deles desde criança vendo minha irmã criá-los com muita paciência e sentia por aquelas aves frágeis e gentis um carinho especial. Tínhamos em casa vários casais e passávamos tardes a ouvir seu canto sonoro e harmonioso.

A classificação científica do canário é a seguinte: Classe: Pássaro; Ordem: Passeriforme; Família: Fringillidi; Gênero: Serinus; Espécie: Serinus Canarius. Os primeiros canários acharam-se nas Ilhas Canárias, um arquipélago situado  na         Costa Africana do oceano Atlântico no século XV. A Ilhas receberam o nome antes do pássaro ser descoberto.

Os romanos as chamavam “Ilhas dos Cães” por serem habitadas por um tipo de raça de cães ferozes e a palavra “canário” é na verdade uma derivação de “canis” (do latim, canis, cão).

Foram incorporados a vida doméstica como animais de estimação no século XVI e nos quinhentos anos que se seguiram uma grande variedade deles foi desenvolvida maioria pelo seu canto habilidoso e agradável.

Na idade média antes da chegada da revolução industrial os artesões costumavam mante-los em gaiolas nas oficinas para entreter os clientes. Serviram de alerta em minas de carvão para detectar o escapamento de gases.

Até a Revolução Industrial, quando não existiam máquinas barulhentas, alguns artesãos costumavam manter canários em suas lojas para entretenimento. Essa prática de manter canários nos locais de trabalho acabou levando-os para as minas de carvão, onde eles serviam de “alerta” ao homem, quando morriam devido à ocorrência de gases perigosos.

Ocorreu inicialmente um certo monopólio da Espanha na criação de canário e chegou-se inclusive a devolver as ilhas as fêmeas nascidas em criadouros para evitar

que as aves se espalhassem pela Europa.
É comprovado e registrado que o inglês Walter Raleig retornando das Ilhas Canárias presenteou a  Rainha Elizabeth alguns canários. A rainha seduzida pelo canto dos canários ordenou sua criação  no Buckingham Palace. Lá, nos criadouros imperiais, apareceu o primeiro canário amarelo e sobre ele há inclusive uma citação de Shakespeare: os olhos da grande Rainha tem o poder de mudar as coisas em ouro.
Também a rainha Isabel, dedicou-se a criação. Agraciava-os com anéis de ouro com o monograma real. Imperadores, Kaisers, Tzares, Mandarins e Xeiques foram seduzidos pelo canto.

Criadores Ingleses criaram novas raças como o Yorkshire e o Gloster. Os criadores italianos criaram raças com novas posturas introduzindo novas curvaturas da espinha. No século XX  o canto e a forma dos canários passaram a ser o foco de atenção  dos criadores. E foi assim que se chegou às mais de trezentas cores existentes atualmente. A forma, a posição e  postura no poleiro, a cor e canto são as características mais marcantes e  importantes para os criadores.
O problema da forma exige estudo, pois a  relação entre as várias partes do corpo das aves é pouco conhecida. Canários alongados possuem cabeça estreita e pescoço longo. Muitas contribuem para a posição e postura: esqueleto, músculos,

formato do corpo da ave, etc.

O esqueleto do membro inferior do canário e das aves em geral tem o que parece ser uma perna, que aparece desplumada, mas é parte do pé. Os dois primeiros ossos do pé estão fundidos num osso único a que se chama canela.

O canário tem  3 dedos anteriores e 1 posterior; segue-se a canela, a perna, a coxa e a bacia. Deste modo, temos a considerar 5 elementos de articulação e 4 ângulos que interferem na posição da ave seja pelos ângulos formados, seja pelo comprimento dos segmentos. De todos estes elementos, o que se afigura de estudo mais importante é o comprimento da canela que varia segundo as raças.

Não sei dizer a raça daquele, mas era um lindo canário. Na cabeça estreita e de pescoço longo possuía um redemoinho semelhante a um ninho que dava um ar de um topete marrom e vermelho o que lhe valeu de minha mãe o apelido de Roberto Carlos. Quando o Roberto Carlos cantava costumávamos parar uns instantes para ouvir a obra musical perfeita que a natureza moldara em sua garganta.

Roberto Carlos tinha a cantilena estreita e alta o que lhe dava uma postura majestosa como um rei. Era não obstante uma ave mansa, sempre paparicado por que estivesse perto da gaiola de metal tipo argentina onde tomava banhos quase diários nunca regateando uma pose para uma foto. Muita vezes pousava em meus dedos, pois tinha uma gulodice compulsiva pelas sementes de cânhamo misturadas ao alpiste.

Acompanhavam Roberto Carlos o branquinho quase doméstico que nunca saia da gaiola nem mesmo se a portinhola ficasse aberta e que morreu de velhice em nossas mãos. O vermelhinho tão novo que teve uma inflamação no terceiro dedo e também se foi talvez por sofrer muito e não poder mais ficar de pé. Olharemos estas criaturas de 12 centímetros de altura, de um coração frágil que mais vibra do que pulsa e que aprendemos a querer como uma clara manifestação divina da natureza no nosso mundo.

Obrigado Roberto Carlos pelos bons momentos e o encantamento de teu canto

que nos proporcionou.

 

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