Código vermelho

 O código vermelho

 

cod red

O aprendizado nem sempre é visto como um treinamento. A aquisição de tecnologia e conhecimentos nuita vezes foi apenas focada como uma regra a ser cumprida após o aluno a ter ouvido. Um formato dos regimes ditatoriais onde a obediência está atrelada a quantidade de listas ou estrelas adicionadas no uniforme. Felizmente o rodo do tempo varreu boa parte deste ranço de fundo de quartel, mas relembro aqui uma passagem que seria gargalhante se não fosse tragi-cômica.

No princípio da implantação do Sistema de processamento eletrônico de multas, o instrumento de coleta de dados era um  documento preenchido manualmente pelo agente que impunha a penalidade. Este agente era um policial militar e não um cidadão civil ou policial civil. O agente não atendia na maior parte das vezes como preencher aquele documento tão detalhado e com informações tão minuciosas.

Fomos por várias vezes testemunhas do treinamento obrigatório que os batalhões convocados para a área de trânsito. Um “treinamento” dado por quem não fazia o trabalho e siquer o conhecia. Não se podia decididamente chamar aquilo de treinamento. Companhias de policiais, centenas em posição de alerta, sob um sol escaldantes eram colocadas no páteo frente a um truculento sargento nomeado instrutor da tropa. O instrutor tirava um caderno de documentos para se efetuar a autuação em número de 25 documentos encapados. .Numa voz ensurdecedora e gritante apenas lia o documento exatamente como estava escrito: nº tal: cor – 1-verde, 2-vermelha, e assim por diante.....

Não se fazia mais que uma leitura, nem eram admitidas dúvidas e perguntas. Terminada a leitura entrava outra turno. O treinamento fora feito.

Como técnicos da implantação e manutenção de sistemas tínhamos uma relação bem próxima com o Comando de Policiamento do Trânsito.

O terceiro andar do conhecido prédio que o Município cedera para as atividades da companhia de trânsito tinha lado a lado o gabinete do Presidente, a assessoria jurídica e a relações públicas do Comandante de policiamento do trânsito.

A assessoria jurídica tinha conhecimento de todos os assuntos que passavam no gabinete desde pedidos para uma poda de árvore até xingamentos e agressões. Tudo acontecia. O Dr. Washington era um Sr. alegre e comunicativo se divertia nos contando “causos” que aconteciam durante todo o dia. Trabalhou vários anos na assessoria até que muito doente teve que ir para o interior.

Certa vez nos contou sobre um homem que procurando por ele pediu que lhe fosse retirada uma multa de estacionamento pois estava a serviço em campana para o DOPS a procura de um comunista. Um homem com aspecto de pugilista de nariz amassado. Coisas folclóricas, ditas entre gargalhadas. Despachou o homem sem prometer nada.

A Companhia de policiamento era representada por um serviço de Relações Públicas. O gerenciador deste serviço estava a cargo de um tenente que eficientemente tomava conta de tudo. O tenente Adolfo Marcondes mantinha uma sala escrupulosamente limpa, ordenada e e arrumada. Não havia um papel que estivesse fora do lugar.

Os cinzeiros eram de vidro e também limpos como se nunca tivessem sido usados. Marcondes é claro não fumava. Era de porte atlético e queimado do sol. Falava alto e sempre olhava a todos encarando de frente e olhando de cima para baixo. Este era o interlocutor de sistemas de processamento que tratava conosco. Como toda alta patente tinha um ajudante-:um cabo ou um soldado raso não sei. Era o marcondes que fazia tudo que havia a fazer enquanto ele nada fazia.

Com suas visitas era de uma educação impecável e sem a menor falha. Eramos civis. Até a voz adquiria uma entonação suave. Os gritos e o comportamento nervoso e exacerbado era descontado no ajudante Eustáquio que ouvia os gritos como uma mucama do século 18.

Celso , colega de trabalho tudo percebia e divertia-se fumando em sua sala e sujando o chão de cinzas entre muitas baforadas. Certa vez derrubou a bandeja com as xícaras de café no tapete claro da sala manchando tudo. O tenente espumando nada reclamou do fato , mas berrava com Eustáquio que de joelhos esfregava o tapete sujo.

Certa vez levamos para o tenente um conjunto de infrações que haviam sido processadas. O policial havia preenchido os 25 documentos que haviam sido rejeitados porque o número do apontador fora escrito com o dígito de verificação incorreto.

A intenção era pedir que houvesse mais atenção no preenchimento.

Ele olhou para os autos e fez uma expressão raivosa. Pensei que fosse explodir. Mandou que Eustáquio ligasse imediatamente para a Companhia do soldado. Escutamos então o relato do ocorrido na conversa telefônica que mandou a providência:uma semana de cadeia para o agente descuidado.

Tentamos protestar, mas nos contendo com um gesto comentou:”não se preocupem, sabemos lidar muito bem com estas coisas”. Código vermelho.

 

 

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