JBN - A vida num click

A vida num click

 


 

Na região do Alto São Francisco a oeste do Estado de Sergipe está o município de N.S. da Glória,  pobre e de 40000 habitantes Lá nasceu JBN que aos 14 anos veio para a cidade de Santos buscando trabalho e um meio de vida melhoe. Em 69 vem o interesse pela fotografia e foi aprendiz de Alfredo Vasquez no conhecido curso  Objetivo. .Entretanto o aluno superaria o mestre ocuparia lugar entre os grandes mestres da Fotofradia como Antenor Corona, Fritz Lindert, Dalmo Teixeira Filho, Ferruccio Batistone  e Amaury da Cruz Tiriba. Estes já falecidos ob

Se JBN não existisse, certamente teríamos que cria-lo. Te-lo conhecido e convivido com ele, eu e uma multidão de amigos, fãs e admiradores é uma experiêwncia digna e enriquecedora  de qualquer currículo existencial.

A primeira vez que encontrei JBN foi no Santos Cine Foto Clube Tinhamos, o grupo que procurou o SCFC, ido procurar um ambiente de laboratório fotográfico melhor do que o que tinhamos no Clube Foto Amigos que frequentávamos. Motivos e bobagens a parte fomos recebidos por uma figura que era uma verdadeira lenda na fotografia santista-Alfredo Vasquez. Foi lá então que pela primeira vez me encontrei com J.Barreto Neto.

Um sergipano elétrico de sotaque arretado que podia transitar de uma narrativa calma e descompromissada para uma altura de voz de vários decibéis além do permitido. Uma hiperatividade incansável e detalhista ao extremo. JBN em verdade só fornecia duas alternativas: ou se gostava dele ou  detestava-o.

Uma coisa que sempre deixou-me intrigado e igualmente aos que o conheciam era aquela estranha sigla : JBN, JBarreto Neto como assinava suas obras fotográficas ou simplesmente Barreto como todos o chamavam. Barreto confidenciou-me que detestava o nome João. Era um nome muito comum, um nome reles, um nome sem a menor ressonância ou retumbância, um nome pauperrimo. Ia dizer quaquer coisa, mas não disse. João era o nome de João Batista, de João Evangelista, do incrivel Lennon, de João XXIII a João Paulo. O nome é comum e os especiais somos nós.

Barreto como um professor projetava e mostrava slides mostrando uma série de fotos de atropelamentos. Fiquei sabendo que era um fotógrafo pericial da polícia. Viria a saber mais tarde que a convivência com a morte é um fato comum no norte. Os presentes ao funeral tiram fotos com e junto ao defunto nos velórios sem o menor constrangimentt. Coisas do uso.

Paulo Vital tinha o charme e a estampa de Paul Newman. O terno branco, a gravata e o cabelo  cuidadosamente esticado na brilhantina. O fotografo e advogado contrastava com a figura amarrotada do Vasquez como que saida de um circo mambembe. O Paulo fazia as vezes do grilo falante ou do gênio da lâmpada para o Barreto e a idéia de reunir a oposição do Foto Amigos numa nova entidade vicentina que não despertasse a ira dos medalhões daquele teve o martelo do Paul Newmann. O Paul representava a poderosa Federação Brasileira de Fotografia amadora com sede no Foto Clube Bandeirantes de São Paulo. Paulo Vital intermediou a criação do Abertura Foto Cine Grupo cuja sede não passava de uma porta numa loja de galeria. Fotos passaram a ser enviadas para a Europa e até para o mundo socialista.

O Tiriba, um ex-militar reformado que se reunia religiosamente com ex-servidores da Fortaleza de Itaipu e que era uma espécie de lenda intocavel do Foto Amigos tornou-se pela solidária amizade a JBN mais um dos defensores do Abertura. O velhinho de bengala seria um auxiliar e promotor importsnte em uma das mais significativas obras do Abertura. Provedor da Faculdade de Ciências Médicas era conhecido por seus trabalhos de fotografia nas apresentações e conferências dos médicos e professôres.

A Exposição Fotográfica da Memória Vicentina foi por demais significativa , tanto pelos resultados alcançados  como pelo inusitado das situações que provocou.  O despertar das pessoas para um olhar sobre as fotografias além dos simples aniversários trouxe a experiência única que foi acompanhar um trabalho de Barreto. O Tiriba nos aproximou de Jaime Caldas pela amizade e admiração. Foi assim que num dia inteiro nos instalamos no escritório de Jaime no seu apartamento na Nabuco de Araújo.
Caldas nos encheu de admiração enquant o cercavamos em volta de sua mesa de trabalho e em palavras simples nos contava o seu trabalho de um pesquisador histórico incansável. “Sábado e Domingo, meu compromisso é aqui, resgatando a história de Santos, como Barbosa lima Sobrinho, meu amigo e pesquisador.”  “ Olhe, diz JBN, considero-me o futuro sucessor de Jaime Caldas !”
JBN nunca foi um medalhão ou papa-fitas. Creio que ganhar um prêmio, uma menção era um natural seu. Muito difícel encontrar um catáligo de salões internacionais de fotografia fossem eles pelas capitais brasileiras ou oelos Estados Unidos, França, Tchecoslovaquia, India onde não houvesse uma simples menção honrosa a uma imagem clicada por JBN.
Caldas entusiasmado com os amigos contava como conseguia unir o registro de um livro de casamentos em trêmula letra manuscrita a um registro ompresso de cartório de um descendente de um bandeirante paulista. Causa-nos admiração admirar exemplares amarelados do jornal ‘A Tribuna’ do século retrazado. Admirem gente ! Estes nem o próprio jornal tem ! Até o Santini já quis compra-los. Estes são meus e serão dos meus sucessores. Ossos das falanges de um inconfidente ? Como pode a ser ? A casa de Caldas transforma-se num museu.

Barreto montou um grande aparato de reprodução fotográfica sobre a mesa e uma a uma, fotos, jornais e revistas foram gravadas cuidadosamente. Inclusive as chapas fotográficas de vidro, verdadeiras relíquias.

A aventura com Flávio Caffé foi uma grende parceria.  Caffé, um rapaz aventureiro e inclinado a viver de expedientes era um amigo de Dalmo Teixeira Filho, grande fotografo e um entusiasta de empreendimentos fotográficos que era receptivo as ideias de Flávio Caffé porém receoso de coloca-las em prática. A associação com JBN foi de muito bons resultados e seu primeiro resultado foi a Exposição Memória Vicentina.

Uma exposição pública na Pç 22 de Janeiro marcou a inauguração da exposição. O amigo e prefeito Koyu Iha pessoalmente inaugurou os paineis de fotos conseguidos pelo Flavio e houve uma ampla divulgação na mídia apesar de ter sido muito criticada pelos "medalhões"  do Foto Amigos na época. Apenas questão de desafetos.


A reinvenção da fotografia na loja JBN. A loja JBN nasceu numa noite de Natal. Estavam lá, JBN, Tiriba, Flávio Café, Onofre e muitos outros junto comigo. Naquela  noite JBN já tomara todas. Nisto entretanto reside o inusitado da história : o jeito JBN de criar. A discussão surgiu por conta de um flash eletrônico quebrado. “ Posso apostar que eu conserto “
Onofre, o reporter fotográfico. Onofre era um rapaz que sempre teve admiração na arte da fotografia e Berreto sempre teve paciência para com o amigo pouco favorecido em recursos jbne que fora uma velha tia que o criara como filho não tivera outra família. JBN  supriu essa deficiência e tornaram-se grandes amigos. Era comum encontra-lo cobrindo as visões fotográficas de grandes eventos para um jornal santista. Depois que os tempos tornaram-se mais difíceis Barreto o leva para a perícia fotográfica da Polícia Técnica, o CSI tupiniquim.
A Loja ocupava inicialmente uma sala diminuta na João Pessoa. Todo o material da fotografia analógica do jornal situado na calçada defronte passava vez por outra na loja. JBN era respeitado por sua escrupulosa desmontagem e limpeza de lentes Rua  que sempre podiam ser vistas secando nas suas capelas de laboratório artezanais. Certa vez disse-me ele quando lhe perguntei onde conseguira aprender tudo aquilo : “Acho que eu sou uma espécie de Leonardo da Vinci. Vou experimentando, fazendo, fazendo e dá certo.”. A ve podiardade é que era assim mesmo. A medida que o mundo do audio e do som progredia em recursos a loja se transformava e surgiam equipamentos sofisticados, amadores e caseiros quase profissionais.
Algumas coisas Barreto não abria mão como a estranha e fascinante coleção de máquinas fotográficas das décadas de 20, 30, 40 e não sei que mais. Haviam até velhas Kapsa e uma Kodak Rio e o jurássico projetor de slides do Tiriba. Acho que esse era por razões sentimentais. Barreto o adquirira num impulso, após uma de nossas derradeiras visitas ao velho remanescente da tropa do Batalhão de caçadores da Fortaleza de Itaipu que já não tinha mais possibilidade de sentar-se ou ficar de pé.
A loja foi aumentando e acabou mudando para a Frei Gaspar uma travessa perto da Rodoviária. As manhãs de sábado acabavam sendo pontos de reunião. Observavamos as velhas máquinas, muitas com fole de extensão e até telêmetros. Certa ocasião Barreto sacou uma velha Leica da prateleira e desafiou os presentes : "Quem for capaz de colocar o filme leva!". Dificílimo ! A máquina era carregada por baixo. Ninguém o fez.

A entrada da loja possuia um curioso tapete de dezenas, centenas de  moedas fora de circulação que faziam barulho dob as solas dos fregueses. Pisar em dinheiro dá sorte. Outras coisas eram estranhas, mas não tão curiosas como o armário repleto de video-cassetes abandonados e o garrafão sergipano com estranhas frutas desconhecidas e uma cabeça de macaco. Dá um sabor especial a cachaça dizia JBN aos mais curiosos. Chamava a atenção a insólita tartaruga se arrastando prla sala por baixo das mesas e pés que estivessem pelo caminho.

Após a chegada da informática, momitores e cpus invadiram as bancadas e a loja. Monitores de 27" gigantescos para a época , várias cpu´s abertas e dezenas de cases de drives acumulavam-se pelas mesas e pelo chão entre centenas de caixas de disquetes de todos os tamanhos. Aparelsos de som de várias procedências se apertavam com toca-discos recuperados funcionando com músicas e sons misturados muita vezes ininteligíveis e sem função, tudo era uma surpresa e possível de se achar.

Entretanto o advento da fotografia digital e de sua facil manipulação acabou por levar muito do encanto e da beleza da arte fotográfica em nome de uma rapidez e de acessibilidade para o upload das redes sociais. A loja não teve condições de subsistir. A arte de JBN  entretanto não será esquecida nos concursos e nos clubes que praticamente desapareceram.